quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Bairro do Sol Nascente - O Caminho para a Escola


O sol nasce atrás do bai rro e depois de algumas horas esconde-se lentamente descendo no horizonte desenhado pela serra negra, que pela sua forma sempre me lembrou o dorso de um cavalo gigante visto
de perfil. O sol e o horizonte continuam iguais desde alguns mi lhares de anos antes na minha existência, mas desde o tempo em que o bairro começou a nascer, só passaram algumas dezenas de anos.
Elevando-se sobre uma colina sobranceira à ex-vila, agora cidade, distando desta cerca de um quilómetro, naquela época da minha infância o acesso para os poucos automóveis que lá se aventuravam ir, era por um caminho de terra batida sempre a subi r, primeiro contornando o “Monte dos Castanheiros” e depois de um trajecto sinuoso , seco de Verão e completamente enlameado de Inverno, com largura para apenas um carro (por exemplo uma Anglia Ford, carrinha do meu pai na altura ) ia desembocar no “Largo”( todos os nomes entre comas, são os por que eram chamados e conhecidos esses lugares, pelos poucos habitantes do bairro de então e alguns manter-se-iam até hoje ) onde a partir dai , já no bairro, se podia optar por subir “Ladeira
do Bernardo,” ir pela “Rua de baixo”, que dava a volta ao bairro num circulo quase perfeito, vindo ter novamente ao Largo pelo “Caminho junto ao muro da Quinta.” Quinta do São João, que viria a apadrinhar o bairro com o mesmo nome: Bairro de São João!
Para quem se deslocava a pé, havia outros acessos, que funcionavam como uma espécie de atalhos para a vila, para a escola e para outros bai rros. Estes sim eram os mais frequentados, pelas mães que carregavam sacos de compras, pela “canalha” que ia p´rá escola, assim como por todos os que tinham o privilégio de
conhecer os seus trilhos.
A sua mulher pouco se via e quando surgia na ombreira da porta da casa que tinha uma forma bizarra, estrei ta e comprida , um rectângulo de quatro paredes, um telhado, duas janelas pequenas e uma porta estreita, com uma grande faca na mão “ fazendo as coubes p´ró caldo
2 “, num gesto de poucos amigos espantava os pequenos espectadores do marido, fazendo-os sal tar em correria pelo caminho de pedras soltas , do muro desfeito que o ladeava
num gesto de poucos amigos espantava os pequenos espectadores do marido, fazendo-os saltar em correria pelo caminho de pedras soltas  do muro desfeito que o ladeava.
Um, depois do Largo seguia em frente atravessando o monte dos castanheiros indo encontrar a meio do trajecto “O Cesteiro”, homenzinho que como o nome indica …fazia cestos ! Sentado num “mocho1 ou num pequeno cepo de madeira, desde o nascer ao pôr-do -sol, era esse o seu ganha pão, ou melhor dizendo o seu “ganha vinho”, visto ter sempre a seu lado um garrafão de cinco litros, talvez empalhado por ele a vime, como os cestos feitos da madeira dos castanheiros depois de devidamente lascada por ferramentas à afeição. Tão impressionante era a sua técnica, intervalada por demorados goles no garrafão, que a canalha se detinha á sua frente, à devida distância é claro que as tais ferramentas aliadas á expressão do artesão mantinham um certo respeitinho para não dizer receio ou medo, que só era atenuado pela visão dos cestos já acabados amarrados em molho e dependurados num dos grandes eucaliptos que ofereciam uma sombra fresca fazendo contrastar o seu grosso tronco de cascas sempre a lascar com a madeira clara e crua dos cestos acabados de fazer que mais tarde haviam de se ver a ser vendidos na feira do mercado pelos seus filhos – um casal – uma  filha e um filho.,
Descia-se a correr, passava-se ao lado do “ campo da bola do São Muiguel, “ e pouco depois já saltávamos os muros de “cantaria “ do recreio da escola.
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1
utilizado par a o t r abalho de artesão ( cesteiros, sapateiros, etc. )
Pequeno banco de madeira de manufactura artesanal por vezes com três pés,2
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Calão Transmontano que é como quem diz – “Cortar as couves para a sopa”.

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