Naquele tempo, no Bairro do Sol Nascente, havia imensas crianças que se juntavam na rua para mais um dia de brincadeiras. Por vezes vinham equipados com acessórios que conseguiam surripiar das arrumações de suas casas: Cordas, facas, machadinhas, pressões de ar... um verdadeiro arsenal de guerra! As "armas",por eles construídas como: arcos de pau de zimbro com flechas de hastes de sombreiro, ou de pau com ponta de ferro aguçada, rebuscada nos desperdícios do Sr. Daniel, o ferreiro, lanças de pau de vassoura com as tais pontas aguçadas, presas com tiras de borracha de câmaras de ar... Perigosíssimos estes "brinquedos", como se viria a constatar nalguns incidentes que viriam a acontecer nas suas aventuras e digressões através dos arredores do bairro, dos bairros vizinhos e quando encetavam saídas para destinos mais distantes que exigiam serem combinadas no dia anterior onde se decidia quem podia ir, quem era o chefe do grupo, e qual o destino e trajecto a percorrer. Por vezes chegavam a caminhar até à aldeia mais próxima, a cerca de cinco quilómetros, galgados por caminhos e trilhos através dos montes, nunca por estradas ou caminhos principais!
Naquela manhã de domingo, ainda o sol não ia muito alto quando a "canalhada" se começou a ajuntar em frente à casa do Rui....
(continua...)
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
O Bairro do Sol Nascente - Curso Superior de Autodidata
Como que por uma espécie de instinto avançado, sempre me deu a sensação desde muito cedo ( 8.30, 9.00 h ), que no futuro para se poder obter um emprego, ou num caso extremo e excepcional, ter mesmo que
trabalhar, que nada seria como antigamente. Num passado recente, a geração dos meus progenitores por exemplo, aprendia-se uma profissão ou um ofício e pronto era para toda a vida, até ter idade para a reforma. Em alternativa podia trabalhar-se até bater as botas.
Neste aspecto o nosso sistema livre, democrático, com o capitalismo selvagem e a falta de justiça veio alterar bastante as coisas. Agora o emprego é mais precário que nunca e apesar de ser obrigatório descontar para o sistema de segurança social, sabe-se que uns irão receber pelo que nunca fizeram e outros nada receberão apesar de fazerem descontos sobre o miserável salário durante uma vida inteira. É o progresso...
Mas vamos recuar aos meus tempos de escola primária, ainda sob o jugo do regime fascista.
Aí aprendi muitas coisas que viriam a constituir os alicerces onde viria a apoiar os pilares de todo um conhecimento, sem o qual estaria nu para enfrentar os desafios que as contingências da vida me viriam a revelar. O abc, as aritméticas, quantos rios tem Portugal, como se chamam, onde nascem e onde desaguam, quantas regiões e províncias, quem é que mandava na pátria e os seus valores, o hino nacional e as cores da
bandeira, assim como toda a confusão da dinastia monárquica, quem fora o primeiro rei e por que é que a sua mãe não o gramava. As saudosas aulas sempre com uma oração no início, de pé tendo à nossa frente dependurado na parede do quadro o mapa de Portugal, uma cruz com um ser humano mal nutrido pregado pelas extremidades dos membros (superiores e inferiores, ainda me lembra) apesar de tempos depois ter descoberto que o espécime nada tinha haver com as aulas de ciências naturais. Em dois retratos a preto e branco, podiam ver-se dois sujeitos de tês áspera e sorriso malandro, que no início pensei serem os
donos da escola. Constatei mais tarde que além de serem os donos da escola, eram também os donos e senhores de todo o país, regiões autónomas e que ainda tinham umas tais de províncias ultramarinas.
A palavra ultramarina, sempre me faz lembrar a palavra margarina, não sei porquê. Talvez do pão com manteiga que trazíamos de casa e comíamos nos recreios!
Cá para mim o da cruz devia ter dado muitíssimos erros nalgum ditado e depois de saber o castigo que o esperava, tentado fugir com um salto pela janela, como às vezes faziam alguns alunos menos dotados para os estudos, mas os donos deviam estar por perto e não lhe perdoaram, infligindo-lhe o terrível castigo, levando-o para a sala de ciências fazendo-lhe o mesmo que nós fazíamos às rãs e às salamandras! Mas um
corte na zona do coração revelou-me que o dissecador era pouco experiente. Depois devia tê-lo colocado dependurado por cima do quadro como exemplo para o resto da turma!
Coitado, tão pequeno e magrinho e nem os restos das sebes espinhosas, que rodeavam o pátio de recreio, que lhe devem ter ficado presas ao cabelo na sua fuga desesperada, lhe tiraram da cabeça!
Mais tarde nas aulas de catequese vim a saber que as minhas teses e conjecturas estavam redondamente erradas - havia mais outro e outro, nos livros, nas igrejas, algumas pessoas traziam-no pendurado ao
pescoço – a infeliz criatura chamava-se Jesus Cristo e diziam ser o filho de Deus. Fosse o pai dele como alguns que às vezes iam lá à escola falar com os professores acerca das reguadas dadas aos seus filhos e isso nunca lhe teria acontecido.
De louvar o tal pedido de desculpas no principio de cada aula que lhe era dirigido em forma de oração. Como o reduziram àquele minúsculo e magro tamanho foi coisa que nunca descobri! Sei que há umas tribos em África que, por um processo qualquer, reduzem ao tamanho de uma pequena maçã a cabeça dos seus inimigos, servindo depois de ornamento e exibição na ponta de um pauzinho! Assim conclui com sucesso a escola primária, tendo a sorte de nunca me ter cruzado com nenhum dos sádicos das fotografias. Aqueles lábios finos e sorrisos matreiros nunca me enganaram!
Pouco tempo depois, andava na quarta classe, deu-se uma revolução em Lisboa, para mim um acontecimento inesquecível. Ia para a escola nessa manhã de Abril e qual é o meu espanto quando me dizem que não havia aulas.
- Porquê – perguntei ao meu colega Zé Manel.
- O meu pai disse-me que houve uma revolução em Lisboa e que por
isso, hoje não há aulas – respondeu-me ele actualizadíssimo.
- Porreiro! – exclamei. E dando meia volta, fui para casa. Pois é…desse dia, apenas isso recordo, nada mais.
Soube mais tarde que dos tais das fotografias da sala de aula, apenas um era ainda vivo e teria sido deposto graças a essa revolução. Nada mais lhe restou senão a fuga para o exílio.
Chegara a altura de subir de patamar e entrar numa nova etapa dos meus estudos mínimos obrigatórios! O ciclo preparatório. O próprio nome diz – ciclo de dois anos onde te vais preparar. Mas preparar para quê?...para continuar a estudar, obviamente.
Desde muito cedo (8.30, 9.00h) as minhas aptidões vocacionais foram reveladas desde as primeiras aulas, agora eu estava a entrar na tal fase estúpida da adolescência, dedicando toda a atenção na sala de aula aos
corpos femininos, que depois se reflectia nos imensos desenhos com que enchia as carteiras(as velhas carteiras) onde me sentava. O desenho do nu feminino era um dos meus temas preferidos, fosse nas aulas de
português, matemática ou religião e moral. Carteiras, cadernos, sebentas, tudo servia para os meus esboços. Corpos, rostos de perfil e a três quartos, pormenores, das pernas ou mamas da professora, sobretudo
quando eram avantajadas, em suma – só obras de arte! Sim era esse o meu caminho – ser um grande artista – quiçá um Dali, um Miró, um Picasso! Para já, a técnica era simples : a rapariga à minha frente, vestida claro, era imaginada nua e desenhada. A professora à minha frente, com as pernas cruzadas ou não, de pé no quadro, parada ou em movimento, era desenhada num ápice. Por vezes atrevia-me a expô-los à critica do parceiro de carteira ou dos colegas mais próximos:
-Hum! A professora tem as mamas muito maiores! Corrigia o Jorginho
Ela ou o desenho? Duvidava eu
– Ela! Não vês que tetas deve ter!
O.K. eis a semente da caricatura. A partir dai comecei a exagerar certos atributos físicos.
- Qual é a piada meninos, porque estão p´rái a rir? – Nada sessora, nada…
Assim comecei a estudar os cânones do corpo feminino afincadamente.
A educação sexual que tanta polémica tem provocado entre falsos moralistas, pais escrupulosos, técnicos psis, “ladradores,” (pseudo intelectuais que opinam, geralmente sobre assuntos que estão na baila e
não lhes dizem respeito, mas falam, escrevem, aparecem nos mass-media e só pretendem fazer confusão, estar no contra, …só dizem merda sobre merda.) …bom seguindo…na altura, lá na escola já se estudava, durante as aulas de qualquer disciplina enquanto se falava ou lia sobre a matéria específica, educação sexual. Havia ilustrações, quase sempre acompanhadas com a respectiva legenda, sobretudo nas mesas mais ao
fundo da sala e nas paredes e portas das casas de banho da sala polivalente ou dos pavilhões. Os desenhos, grande parte dos quais eu também era autor, eram elucidativos, não deixavam dúvidas: Pénis, vaginas escancaradas, seios, lábios sensuais, posições de coito, etc. Depois acompanhados de comentários que por vezes levavam, a quem os lia, a uma profunda reflexão sobre o assunto: - Caralh.., piç…, colh..,
con.., parrac…, a Gina é uma pu.., o Betinho é um pan…, já fod… a Etelvina, etc. Tudo calão e gíria que era essencial saber quando se falava de sexo nos intervalos, ao ver passar as gajas boas, as menos boas e
mesmo os trambolhos.
Assim ao ingressar no ensino secundário, escolhi como opção vocacional Arte e Design. Aí as mesas já eram de um laminado liso, polido, que permitia desenhar, apagar e escrever copianços que a mulher da limpeza limpava no fim do dia.
Todas as disciplinas eram obrigatórias, menos religião e moral que era facultativa. Eu frequentava. Tinha curiosidade em tirar a limpo a tal questão pertinente sobre Jesus Cristo: - seria, tal como se dizia, o maior
desde à dois mil anos a esta parte? Claro que sim! Dai ter tantos seguidores em todo o mundo. (mais à frente irei falar disso).
Além das disciplinas de desenho, gostava também das aulas de biologia, física, química, que eram dadas no laboratório. Estudavam – se coisas interessantes como a clorofila, a reprodução animal e vegetal, as bolinhas de mercúrio espalhadas pelo chão e porque era tão difícil apanha-las, a ebulição, a combustão, a evaporação. Sobretudo a evaporação de material que amiúde se evaporava do laboratório!
Balanças, tubos de ensaio, algumas substâncias químicas, plantas exóticas e animais mortinhos da silva. Insectos e repteis que por vezes eram encontrados com um grito alarmante na carteira da boazona da
turma. As plantas que acabamos por enrolar em mortalhas atrás do pavilhão é que nunca mais foram encontradas…a sessora bem que nos tinha dito que eram de grande valor económico e medicinal! Serviam
para extrair fibras para fabrico de tecidos, e alguns fins medicinais como a falta de apetite. Tinha razão. Depois de as fumarmos fomos para o bar alegremente sorridentes e bem dispostos comer e beber de todas as porcarias que lá vendiam a preços reduzidos.
Assim se passou o secundário para alem do estudo de arte, português, historia, filosofia, matemática, etc. Também cheguei à conclusão, nas aulas de religião e moral que realmente os judeus e os italianos de Roma,
Romanos, tinham tramado bem, o pobre J. C.
Valeu-me a minha natural curiosidade em relação ao Cosmos, à Pintura e aos grandes pintores, á Banda Desenhada assim como em relação à Música, sobretudo o rock sinfónico, psicadélico, heavy metal e mais
tarde ( 23, 24,00h) ao Jazz, de grande contributo na minha posterior formação como autodidacta, pois a entrada para o ensino universitário ficaria comprometida com o meu ingresso em bandas de garagem e
grupos de baile.
Sobre todos esses temas gostaria de vos falar para vos dar uma ideia do que é ser um autodidacta superior. (Conceito criado por mim, com toda a justiça que merece dize-lo.) Não, não é presunção e água benta, cada um toma a que quer! É aquilo que realmente eu acredito ser e fazer parte do
meu Eu…
Que bonito, oh! oh! eh! Que bonito (“El Chato”).
O Bairro do Sol Nascente - O Caminho para a Escola
O sol nasce atrás do bai rro e depois de algumas horas esconde-se lentamente descendo no horizonte desenhado pela serra negra, que pela sua forma sempre me lembrou o dorso de um cavalo gigante visto
de perfil. O sol e o horizonte continuam iguais desde alguns mi lhares de anos antes na minha existência, mas desde o tempo em que o bairro começou a nascer, só passaram algumas dezenas de anos.
Elevando-se sobre uma colina sobranceira à ex-vila, agora cidade, distando desta cerca de um quilómetro, naquela época da minha infância o acesso para os poucos automóveis que lá se aventuravam ir, era por um caminho de terra batida sempre a subi r, primeiro contornando o “Monte dos Castanheiros” e depois de um trajecto sinuoso , seco de Verão e completamente enlameado de Inverno, com largura para apenas um carro (por exemplo uma Anglia Ford, carrinha do meu pai na altura ) ia desembocar no “Largo”( todos os nomes entre comas, são os por que eram chamados e conhecidos esses lugares, pelos poucos habitantes do bairro de então e alguns manter-se-iam até hoje ) onde a partir dai , já no bairro, se podia optar por subir “Ladeira
do Bernardo,” ir pela “Rua de baixo”, que dava a volta ao bairro num circulo quase perfeito, vindo ter novamente ao Largo pelo “Caminho junto ao muro da Quinta.” Quinta do São João, que viria a apadrinhar o bairro com o mesmo nome: Bairro de São João!
Para quem se deslocava a pé, havia outros acessos, que funcionavam como uma espécie de atalhos para a vila, para a escola e para outros bai rros. Estes sim eram os mais frequentados, pelas mães que carregavam sacos de compras, pela “canalha” que ia p´rá escola, assim como por todos os que tinham o privilégio de
conhecer os seus trilhos.
conhecer os seus trilhos.
A sua mulher pouco se via e quando surgia na ombreira da porta da casa que tinha uma forma bizarra, estrei ta e comprida , um rectângulo de quatro paredes, um telhado, duas janelas pequenas e uma porta estreita, com uma grande faca na mão “ fazendo as coubes p´ró caldo
2 “, num gesto de poucos amigos espantava os pequenos espectadores do marido, fazendo-os sal tar em correria pelo caminho de pedras soltas , do muro desfeito que o ladeava num gesto de poucos amigos espantava os pequenos espectadores do marido, fazendo-os saltar em correria pelo caminho de pedras soltas do muro desfeito que o ladeava.Um, depois do Largo seguia em frente atravessando o monte dos castanheiros indo encontrar a meio do trajecto “O Cesteiro”, homenzinho que como o nome indica …fazia cestos ! Sentado num “mocho1” ou num pequeno cepo de madeira, desde o nascer ao pôr-do -sol, era esse o seu ganha pão, ou melhor dizendo o seu “ganha vinho”, visto ter sempre a seu lado um garrafão de cinco litros, talvez empalhado por ele a vime, como os cestos feitos da madeira dos castanheiros depois de devidamente lascada por ferramentas à afeição. Tão impressionante era a sua técnica, intervalada por demorados goles no garrafão, que a canalha se detinha á sua frente, à devida distância é claro que as tais ferramentas aliadas á expressão do artesão mantinham um certo respeitinho para não dizer receio ou medo, que só era atenuado pela visão dos cestos já acabados amarrados em molho e dependurados num dos grandes eucaliptos que ofereciam uma sombra fresca fazendo contrastar o seu grosso tronco de cascas sempre a lascar com a madeira clara e crua dos cestos acabados de fazer que mais tarde haviam de se ver a ser vendidos na feira do mercado pelos seus filhos – um casal – uma filha e um filho., Descia-se a correr, passava-se ao lado do “ campo da bola do São Muiguel, “ e pouco depois já saltávamos os muros de “cantaria “ do recreio da escola.
_______________1
utilizado par a o t r abalho de artesão ( cesteiros, sapateiros, etc. )
Pequeno banco de madeira de manufactura artesanal por vezes com três pés,2 _________________
Calão Transmontano que é como quem diz – “Cortar as couves para a sopa”.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Tirar da Gaveta - o Autor
Um indivíduo, por vezes tem necessidade de escrever, seja um sentimento, uma emoção, um desabafo...as folhas ou outros suportes onde despejamos eeses momentos criativos vão-se acumulando, durante anos, aqui neste armário, ali naquela gaveta...No meu caso são uns poemas, uns contos, umas narrativas,umas ideias, umas letras musicadas, uma história de BD inacabada, uns desenhos, uns registos diários ...etc...é pá tanta coisa! É verdade, acompanhe este blog e verá. Claro que não nasci ontem.... digamos que já tive tempo de fazer algumas coisas. Achei que estava na altura de as "tirar da gaveta".
Rui Tó Magalhães
Outras Actividades
http://somdamargem.blogspot.com/
http://casamentos-ruito.blogspot.com/
http://sn133w.snt133.mail.live.com/?rru=home&livecom=1
Rui Tó Magalhães
Outras Actividades
http://somdamargem.blogspot.com/
http://casamentos-ruito.blogspot.com/
http://sn133w.snt133.mail.live.com/?rru=home&livecom=1
A Minha Terra, a Minha Rua, os Meus Amores e Eu - Rui Tó Magalhães
_______________________________
Trás -os –Montes
Das pedras, dos socalcos,
_____________________________
Venho do Nordeste,
_____________________________
O Tempo é como um rio,
_____________________________
Da janela do meu quarto,
___________________________
Não sou
Não sou Poeta por escrever
_____________________
Inércia
Pareço-me fútil se nada faço,
______________________________
Brinco à Vida
Brinco à Vida,
Muda está a viola
___________________________
Longe de mim
Estou longe de mim,
_______________________________
E Tu?
E tu?
No Fio da Navalha
Direitos reservados: Rui Manuel Magalhães António Carvalho
____________________________________
A cruzDe quem sempre alcança
_________________________________________
Não tenho inveja,
________________________
_______________________________
_______________________________
Trás -os –Montes
Brota o vinho
Que aquece as almas
No Inverno frio.
Das robustas oliveiras,
Azeite virgem dourado,
Já alumiou candeias,
Qual um Sol, que aquece o prado.
Gentes de rostos vincados,
Profundos traços de Tempo,
Mulheres vestidas de negro
Por negro ser o alento.
.Casas de cantaria,
Talhadas a punho e cinzel
Alvenarias de xisto
Cortiços de cera e mel.
Eiras de trigo loiro,
Quantas segadas de verão,
À custa de braços fortes
Do suor se fez o pão.
O santinho padroeiro
Todas as almas protege,
Desde a velhinha à viúva,Ao salteador mais herege.
Superstições e lendas,
São contadas à lareira,
Para espicaçar o medo
Em noites de lua cheia.
Plenos mistérios do Além,
Coisas do outro mundo
Coisas do arco-da-velha,
Gatos com cio no escuro.
Sinos dobram a rebate
Ecoando entre vales.
As montanhas escarpadas,
Lembram velhinhas com xailes.
Chega por fim o Verão,
Dias quentes, soalheiros,
Aquecem os anciãos,
Secam a lenha nos sequeiros.
Desperta-lhes o sangue morno
Que outrora fervilhava,
Nas devotas romarias.
Nos bailaricos disputavam,As moçoilas de tez clara
E alvas faces rosadas
Na aparente timidez,
Seduzidas, conquistadasP’ra namoros duradoiros
De tantas idas às fontes,
Por tantas palhas douradas
Serem leito dos amantes.
Assim chegam os emigrantes,
Agosto em festas de Verão,
Matam Saudades de um ano,
Em cortejo e procissão._____________________________
Venho do Nordeste
Venho do nordeste
Vida agreste, mas feliz.
Nas horas, o Tempo pára
E o Tempo nada diz.
Venho do Nordeste,
Da paciência o vagar,
A vida é sempre um teste
Passa sem querer passar.
Venho do Nordeste,
Do Nordeste Transmontano
Parece um mês, uma semana
E um mês parece um ano.
Venho das serras, montanhas,
Onde tudo, lento passa,
De Portugal as entranhas,
Mas sempre com ar de graça!
Venho do Nordeste,
Norte de Portugal,
Não há nada que não preste,Só o tempo é banal!
Venho do Nordeste,
Olivais, azeite de oiro,
Cearas outrora ondulantes,
Albardas, arreios de coiro.
Venho de Trás-os-Montes,
Cantinho de Portugal,
Da água fresca das fontes,
Da ribeira o canavial.
Do sol quente de Verão,
Dos dias de nevoeiro
Dantes Invernos sem pão,
Mas de um Verão de soalheiro.Venho do Nordeste,
Da pureza, do pecado,
De gentes de alma agreste,
Nunca igual a nenhum lado!_____________________________
O Rio da Minha Ponte
Que devagar vai correndo para o Mar,
Paciente, sem ter pressa de o ter,
Na certeza que seus, todos os rios são…
Talvez assim para Deus todas as Almas irão…
Mas no Rio do Tempo,
Águas não voltam atrás,
Só nas nuvens regressam
Águas que o vento traz.
O rio parece o mesmo,
Águas da mesma FonteMas são sempre águas diferentes
Parecidas às de ontem…
Talvez Almas Perdidas
Em chuvas assim caídas,
Regressem de novo vivas
Ao Rio da minha Ponte!_____________________________
Da janela do meu quarto
Vejo a cidade e o mato,
Uma nespereira e pinheiros,
Mesmo ao lado candeeiros,
Quais estrelas mais próximas,
Iluminando a rua,
Da janela do meu quarto
Avisto ao longe a tua.
Vejo ao longe um regato,
Vejo os outros e relembro
__________________________________
Não a apanhei…
_________________________
A auréola revelou-se no vácuo.
Amo – te para além de Ti!.
___________________________
Cumpriu-se ...
__________________________________
De nada te valho,
___________________________________
Dei–te tudo que tinha p’ra te dar,
Deixa-me...
um único porto de abrigo...
Um único Eu...
__________________________________________________
Avança de novo, volta a viver em Ti.
Nada se passará... Nada.
_______________________
Desdobrei a minha Alma,
E as outras?...com quem seria?
_________________________
Penso, escrevo, dormito, desperto.
Leio com dificuldade
Vejo os outros e relembro
Do sonho, o que é real,
Da vida, o que é banal
Da realidade feita em sonhos
Vejo o passar dos anos.
Da janela do meu quarto
Vejo dias diferentes
Vejo enfim outras coisas
Que são as mesmas que antes.Como um país sem fronteira
Vejo de outra maneira
Num longínquo horizonte
Vejo um rio e uma ponte.
Nada me pode parar,
Nem sequer intimidar,
Sem caminho vou partir,
Sem pensar vou decidir.Apenas irei chegar,
Onde a vida me levar,
Talves até à tua rua
E à janela que é tuaSem daqui sair, eu parto
Comigo levo o Luar
Sem daqui sair, viajo.
Sem partir, vou regressar.
Se vou p’ra longe, perdido,
Sinto saudade, por ficar,
De quem chegou sem ter partido
De quem partiu, sem cá chegar!....__________________________________
Manhã de Outono - a folha amarela
Era tão amarela e grande!
Grande como as minhas duas mãos
Mas não a apanhei …
Por ser tão grande e amarela
E ter-me feito pensar em apanha-la.
Não, não a apanhei…
Iria deixa-la.
…deixei-a a brincar no chão,
Com as outras folhas amarelas,
Umas com as outras
E o vento com elas.
Andando passei por elaE pensei quem seria
Aquela folha amarela!
Ah! Parece uma AmoreiraA mãe dela,
Nua, vestida de Outono
Ali estava em porte, despedindo-se dela.
Ainda com réstias,
Das tendências da passada Primavera,
Algumas verdes das tantas que tivera.
Agora deixava à sorte delas
As amarelas…
Aquela grande era tão bela
Que não a apanhei…
E era tão amarela!
Ninguém, com certeza, a iria apanhar
Até o vento
A levar pelo tempoAté castanha ficar…
Nem a varredora, por porventura,
Irá reparar nela,
Na grande folha amarela.
Passei, e lá ficou a folha amarela
A saltar com as irmãs e o vento com ela.
Mas já não ia sozinho
Ela ia comigo e eu pensando nelaFez-me companhia até casa
A folha amarela
Mal sabia ela
Que já perto do fim
Tinha sido poema
Por grande e tão bela
Ser uma folha amarela._________________________
Para além de Ti
O silêncio da noite atravessou o espaço
De átomos irrequietos de Ser.
Sons inaudíveis sussuraram no rodeio das sombras,
Vozes ténues que rebentam na luz…Amo – te para além de Ti!.
___________________________
Espera
Uma vez mais, o Sol ,turvo, fica preso
Deixando a atmosfera manchada de Outono.
Não poderá começar já a vontade de ir...
Nem a água daquele charco
Nem o odôr metálico da humidade
Os irá encerrar em antros escuros.A Saudade, deixará que me una à noite cálida.
Por fim poderei abandonar-me à chuva
E à minha irremediável melâncolia
A que se somam as ausentes tardes amarelas
E rindo-me do Astro Rei, do seu calor,
Escapar-me-ei debaixo do céu de água
A tirintar sob horas de espera.
Então, beijo-te o rosto frio...
Porque é no Outono que eu te quero mais !...__________________________________
Que lindas que sois
P’ra nada presto,
Nada te dou,
Nada te empresto.
Tu, tudo me dás
Sem nada quereres em troca.
Tu sempre lá estás,
Nunca bates com à porta.
Eu de nada te valho,
Nada tenho p’ra te dar.Só o nada tenhoP’ra te sossegar!
Penso em nada…
Só o nada me consola,
Só o nada me abstrai…
E tu lá estás, sossegada,
Com a pequenina ainda acordada,
Bem cheiinha, bonita rosada…
Esperas por mim, pela minha chegada…
Que lindas que sois!...___________________________________
Para mim chegaria
Um voo de andorinha,
A Primavera a chegar.
Mostrei–te tudo o que havia p’ra ver,
Horizontes sem fim
Até a vista perder…
…o olhar, o sentir,
O sonhar, conseguir,
O cantar, o viver,
A minha alma, o meu Ser.Dei–te o Céu, o Inferno,
O Verão, o Inverno,
O infinito Universo,A partida, o regresso.
Dei–te amor, desespero,
Dei–te dor, exagero.
Dei–te o Sol, dei – te a Lua,
Dei–te a casa, a rua,
As estrelas, a Noite,
Do vento norte o açoite,
Do arco–íris as cores,
Do jardim dei–te as flores,A alegria o alento
A magia do Tempo.
E para além do Amor,
Da fogueira, do ardor,
Dei–te a luz fugidia
Do mais lindo dia,
Da sombra o luar
Que em ti fiz brilhar.
Dei–te inteiro o Mundo
Num parco segundo,
Dei–te a paz, o abrigoO abraço amigo…
Não me lembro de mais
Senão mais te daria…Se a mim Tu te desses,
Para mim chegaria!
__________________________
Um único Eu
... Deixa-me que te invada e habite
Que o teu alvo olhar me permitaVoltar a demonstrar o valor da tua alma...
Deixa-me ....
Deixa-me que te respire,
Que os meus passos deixem o rasto na senda da tua vida.
Deixa-me ...
Deixa-me jogar no vício do teu corpo ,
Encher-te de luz em troca do teu calor.
Que os teus olhos tenham uma única obsessão,
Uma única meta, um único porto de abrigo...
Um único Eu...
__________________________________________________
Avança, nada se passará
Avança de novo, volta a viver em Ti.
Os teus olhos gritam em silêncio o teu segredo
Que emerge na azul transparência da minha mente.
As minhas mãos sonham com a suavidade da tua pele...
Os meus pés sonham com o caminho que tu pisas,
Enquanto mergulhas na imensa linha
Que te leva à Terra do Nada
Coberta com um manto escuro, de negro.
Avança...
Avança e não te detenhas...
Que não te vença o amargo instante de um minutoQue não haja um único pensamento
Que te possa encarcerar.
Avança...Avança...
Mesmo que rasguem o coração,Nada se passará... Nada.
_______________________
Eu(s)
Qual peça de tecido, que no balcão se desenrola.
Dela saíram vários espíritos,
Várias “Personas”, de vestes nuas,
De Almas vestidas…
Cada qual com a sua Ânsia,
Cada qual com a vaga Esperança.
Todas em desatino,
Todas em sintonia,
Umas parecidos comigo…E as outras?...com quem seria?
_________________________
Insónia
Por pouco me atrevo
No raciocínio incerto.
Levanto-me, deito-me, leio, releio.
Adormeço leve no Livro aberto à sorte.
A leitura fica a meio,
Sem pasmo ou devaneio.
Com teimosia o Livro parece chamar-me,
Nos impulsos desconexos
Dos antebraços dormentes.
Depois sossego, tomo benzodiazepinas,Calmantes,
As pálpebras pesam… Breves instantes…
Tomo aos molhos
Tudo que dos Sonhos me leve…Quero dormir…
Ou estar acordado?
Que a Noite passe por mim sem recado,
Sem Sonho, dormindo,
Com o Sonho acordado.
É no ténue limite, entre o sono e a vigília,
Que tomo consciência da Noite tranquila…
Agitada apenas pela Chuva cá dentro…
Do meu Pensamento
Que teima ir-se embora.
Registo, insisto
Nisto de escrever,
Para não pensar,No que penso sem desejar.
Volto a escrever…
Depois, por um momento,
Saio do meu Ser...
Mergulho em mim sem querer.
Largo tudo no chão,
O livro, o caderno,
O Pensamento, a mão.
Ao fim e ao cabo,
Não passa de futilidade
Que pela manhã, desperto,Leio com dificuldade
Aquilo que parece que Eu não escrevi!...
Mas deduzo que sim…
Só Eu estive ali!...
Ou então!…Seriam Outros…
Outros Eu(s)!?...
Outros Eu(s)!?...
Outros Eles?...
Quem sabe?...
Quem sabe?...
Quem somos, se não sabemos onde fomos,
Enquanto dormimos, sonhamos?
Quem sabe se estás aqui ao meu ladoCada vez que penso em Ti?
Serás Tu que me manténs assim acordado!
Mas para quê?
Para que triste Fado eu escrevo?
Penso… Sou chamado?
Por vezes a Noite parece uma benção
Que um deus criou pró descanso!...
Outras parece, que algum diabo
As inventou para nós,
Dela sermos seu escravo.
Fosse o que fosse,
Não foi perda de tempo…É quando o Silêncio reina
E a Escuridão é rainha,Que a Alma, perdida,
Volta a ser minha,
Que a Paz que me envolve,
Sem Dôr nem ferida,
Me dá todo o seu Nada,
Onde encontro guarida!…___________________________
Não sou
Não sou Músico, só por tocar
Não sou Humano só por ser
Nem Filósofo, só por pensar…
Apenas junto o meu Ser
Ao papel em branco…
Apenas junto o meu Ser
Ao Silêncio a pairar.
O Poeta não é quem diz sê-lo
O Poeta não é quem quer sê-lo.É no Ser do Poeta,
Na sua Obra aberta,
Que alguém há-de lê-loE reconhecê-lo.
Não basta escrever em verso.
Não basta o verso rimar.
É preciso da Alma,
O avesso, a calma,
Do Outro encontrar!..._____________________
Inércia
Pareço-me outro se nada penso...
Mas pode o Nada pensar-se, sem nada pensar?
Pode o Nada sentir-se sem nada sentir?
Ébrio de existência inequívoca,
Sinto em mim o Nada do Tempo.
Parado no meu sentir,
Penso em mim o nada que faço,
Ao pensar no que havia fazer!
A arte espera, impassível serena,Existindo no Todo de mim,
Com ânsias de aparecer,
No papel, no quadro, no CD, na disket,
Na ponta dos dedos, no gesto…Ao ritmo da Música, que procura
E de imediato encontra, vibra,
Passando do gesto ao som,
Através do instrumento
Que agora repousa encostado à parede...
Mas não… a força de nada fazer,
Reforça o pensamento em tudo.
À força de tudo querer
O Nada emerge, mudo,
Qual pedaço de cortiça
Que insiste em flutuar,
Vencendo o leveza do Nada,Sobre o peso de tudo
Quanto podia fazer…
Ou já devia ter feito...
Não no Tempo ou no Espaço...
Tão só no meu Pensamento!
E cá está o despertar do curto sono,
Pesado, à custa de tudo querer.
Despertando o Nada acordado em mim
Derrotado, por sobre ele escrever.
Do Nada, nasce a palavra
Lixívia para o Nada do Ser,Exorcismo da Alma dormente
Que hà pouco não queria viver!..______________________________
Brinco à Vida
Brinco aos Vivos.
Os Outros, esses,
Dão-me a impressão que lá vão vivendo,
Em brincadeiras, mais ou menos sérias!
Movo me com brisa suave
Qual parreira em leve ondulação,
Como que ensaiando na antecipação,
Preparando-me para ventos mais fortes,
Quiçá tempestades.
A sede de futuro,A boca seca, de excesso de presente,
A escassez das memórias do passado,
Na comodidade dos neurónios,Muda está a viola
Funcionários privados, (não públicos!)
Dos arquivos da memória,
Deixam - me angustiado,
Nesta brincadeira séria.
___________________________
Muda Está a Viola
Lá no canto da sala mudaMuda está a viola.
A viola muda não canta
E o pensamento não fala.
Ás vezes fala demais,
Outras cai no vazioDe quem da vida não tem pressa
De quem passa como um rio
Os projectos adiados,
As ideias que não passam disso,O contratempo inesperado
De um inconstante sorriso.
Tu és tudo que eu preciso
Tu és tudo que eu quero
Tu tens tudo num sorriso
Tu és tudo que eu esperoChega a noite e tu não vens,
Chega a lua e não apareces
Ela sozinha com os seus ais
Ele só, com as suas preces.
Todos os dias são o mesmo,
Só com as estrelas eu vivo,
Passo a noite com a lua,
Sem ti as estrelas não brilham!___________________________
Longe de mim
Estou longe do mundo.
Estou longe de ti,
Estou longe de tudo.
Vejo os homens em Guerra,
Vejo a Paz, lá tão longe,
Vejo o Tempo à espera
Que o amanhã seja hoje.
Penso absorto, prisioneiro em mim
Liberto as Asas da Alma.
P´ra tão longe me levam,
P´ra tão perto de ti!...E num voo sem Tempo
Serei livre eu, …assim?
Estarei mais perto, eu, …de ti?_______________________________
E Tu?
E tu?
O que encontraste para além de ti,
Para além do teu próprio horizonte,
Para lá do teu próprio querer,
Muito para além do teu ser?______________________________Tempo a Crédito
Não me sinto passar
Não me sinto viver,
Apenas sou eu
Comigo e meu Ser.
Criatura pasmada,
Se não conhecesse
O porquê, de esbanjarNo Fio da Navalha
Direitos reservados: Rui Manuel Magalhães António Carvalho
O Tempo que me pertence…
…Sei que tudo se paga,
Mais tarde ou mais cedo;
Não é essa a conta que me mete medo,
Talvez sim, o tempo que tenho de crédito,
Quando este acabar sem aviso prévio! …
__________________________________
O que será que me faz andar assim no fio da navalha,
Dia após dia, hora após hora?
O que será que me leva ao limite de mim,
Sozinho sem «nada», sem tempo ou demora,
Num conto sem história, sem rumo ou vitória,
O que será que luta dentro de mim,
Que me mói a memória,
Em momentos sem fim?____________________________________
A cruzDe quem sempre alcança
Tudo passa, tudo passa,
Pouco fica, só lembrança,
Tudo parte, tudo vai,
Nada dura para sempre, não…
…Só fica mesmo a lembrança,
A parca recordação.
Não se pode ter a certeza da vitória,
Mas pode – se ter a certeza que tudo se fez,
Para alcançar essa glória!Gostaria de um dia
Poder dizer que valeu a pena,
Que valeu o dano,
Tudo acontecer,
Sem esboço nem plano,
Sem mapa nem bússola,
Na busca de mim,
As ideias o alento,
Sem hora nem tempo,
Apanhado em teias,
Inspirado na esperança,Mais do que espera
Sem nada querer
Da quimera do sonho
Realidade do ser
Como folhas de Outono
Entregues ao vento
Na deriva do sonho
Mas no sonho a viver
O desespero ou alento
No inevitável fluir,
No implacável devir,
Do ser e não ser,
De compreender e sentir
Qual será o dever
De não largarmos a cruz
A meio do caminho
Mesmo que sempre
A carregues sozinho?…
_________________________________
A Folha Caída
A folha estava no chão
Apanhei-a …
Era de manhãzinha…Ainda há pouco me levantara.
E vi aquela folha no chão,(Às vezes há muitas folhas no chão)
Destas de papel branco de fotocópia,
Formato a4.
Podia tê-la deixado onde estava
Ou apanha-la e deita-la ao lixo.
Mas estava branca como a madrugada…
Era o começo do dia que ali estava!
- Apanhar uma folha do chão, vazia e branca!
Ah! Mas estava dobrada,
Perfeitamente dobrada.
Assim tinha uma área A5!
Não faz mal, aqui está ela
Escrita, agora, gatafunhada.
Cheia de mim.
Dos meus fúteis pensamentos,
Os da daquela madrugada.
Escrevi-a!
Escrevi no seu vazio…
…O meu vazio…
Tu podes escreve-la com poemas do teu coração…
Também é tua se quiseres;
Apesar de ter sido eu a apanha-la!
Podes enche-la de lindas frases…
Ou feias até,
Sem nexo,
O que bem achares.
Para mim é apenas uma folha
Que apanhei de madrugada.
Guarda-a se quiseres…dou-ta!
Será a tua folha.
A folha que eu te dei.Depois guarda-a.
Talvez numa gaveta fechada,
- Nos bolsos não!!Podia ir à máquina de lavar e ficava amachucada…
Talvez manchada,
Perdida, irremediavelmente rasgada.
Guarda-a se quiseres.
Depois, um dia encontra por acaso, abre-a…e lê-a.
Nesse dia voltarás a viver esta madrugada!_________________________________________
Não tenho inveja,
Ser Quem Sou
A angustia de, por vezes, não conseguir ser quem sou…
Ou a inevitabilidade de ter de ser quem não sou.
Como era bom ser quem sou
E nunca, nunca ser necessário ser quem não sou.
Se ao menos, quando não sou quem sou,
Fosse um pouco do que sou…
Que bom que seria ser quem sou!
____________________________________
Paz
Ciúme, dor ou rancor,
Daquilo que outros têm,
Ao que eu dou valor,
Pois aquilo que eu tenho,Sempre terei e hei–de ter,
A fonte é inesgotável,
Vem da nascente do ser…
Não me refiro só
Ao espólio da alma,
Nem à necessária matéria
P’ra esta ser alma…
Tudo é relativo,
De quimera fugaz,
Nesta visão subtil,
O que para ti é guerra, …
Para mim pode ser paz!...________________________
Vôo
A alma soltou-se ,
O espírito ergueu-se....
De ti te afastas para te veres melhor.
Fora de ti vês o mundo de cima
Como uma Supernova ardente,Qual mente incândescente ...
O Nada é tudo,
O Tudo é uno...
....Resistente, frágil , relativo!_______________________________
Até Logo, “Eu”!
Até o Sol regressa à minha janela,
Depois da claridade que a madrugada traz nela…
…Será que alguém pode fugir de si próprio,
Por mais caminhos que corra entre destinos incertos?
Nada é impossível,
Só fugir de mim, parece inverosímil…
… Quanto mais fujo,
Mais de mim me aproximo!Bem, vou dormir.
Neste momento parece-me o melhor caminho,
O maior dos estímulos.
Quem sabe com quem me irei encontrar
Nesse mundo distante, no País dos Sonhos,
Onde irei eu parar?...
…Pronto. Já chega!... Até logo, “Eu”!
Agora tenho de ir…
…Para junto de mim!... Rui Tó Magalhães
_______________________________
Subscrever:
Mensagens (Atom)