segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Subtil Violência

Violência - será que o ser humano é um ser naturalmente violento?
Segundo aqueles programas que dão na TV generalista e noutros canais, que continuam a dar pelo nome de Telejornais, vá-se lá saber porquê, mais adequado seria designarem-se por "Diário dos Crimes de Ontem" ou "Cobertura Jornalística Exaustiva de Criminosos e Políticos e... Bola"...se calhar, nalguns casos, a palavra políticos até se dispensava!
Parece que sim. Pelo menos, adoram saber de todos os actos violentos cometidos nas ultimas 24 horas antecedentes, por vezes na manhã do próprio dia, noticias fresquinhas! Assim assiste-se a um desfile de horrores (claro que só reflecte a realidade, mas poderia muito bem dar-se o contrário - um desfile interminável de boas notícias, se a curiosidade humana fosse naturalmente para aí  virada e, se para isso fosse um pouco "formatada"...
Mas não, para além disso à ainda a fabulosa ficção. Expliquemos: essas novelinhas com um  enredo, que se resume a violentas discussões, falcatruas, traições, planos maquiavélicos, raptos, assassinatos, etc, etc, que para desanuviar, nos valem logo após o "Telejornal do Crime" acabar. As acções e argumentos vão-se repetindo ao longo de dias, semanas, meses, mas com uma atenuante: é que geralmente são sempre os mesmos actores que nos entram pela "casa adentro" em discussões e berrarias, lembrando-nos, que afinal estamos perante "geniais obras de ficção", pois caso contrario não teriam tão vasta audiência em horário nobre!
Nota que um numero de audiências grande, assim como uma maioria qualquer, acerca de qualquer coisa, não define essa coisa como excelente ou boa - pelo contrário, geralmente algo que mais tarde se vem a destacar como "bom, inovador" para o "grande público" mainstream, teve a sua génese em terrenos mais "underground", onde as minorias se movimentam - elitismos aparte.
Mas aqui a questão é a manipulação consciente de bastidores para levar o grande público a pensar que gosta, e acaba por gostar mesmo, pois a repetição da formula é tal, que deixa de haver o mínimo de espírito critico e a isso chama-se embrutecimento ou deseducação  - não há mal nenhum em deixar-mo-nos envolver mentalmente num enredo qualquer, faz bem ao espírito e desperta a imaginação, mas quando o enredo é sempre o mesmo...
Vejamos, o "grande  público" gosta, ou pensa que gosta, ou está convencido que gosta, ou alguém o convenceu a gostar!... uma balela repetida vezes sem conta, pode muito bem passar a ser uma obra admirada por milhões, não é? Não,...que as pessoas não são tolas! Pois não, mas sem espírito critico, ficam indefesas para a formatação onde vai encaixar o conteúdo mais banal.

Como não sou nenhum extraterrestre (às tantas estes também não aparecem, para não perderem a novela da noite!),  e para falar sobre este assunto é porque já visualizei esses "reality shows",novelas e afins, transmitidos em horário nobre, pré-nobre e pós-nobre, (é incrível a repetição de cenas, e a extensão de alguns desses ditos),  punha-me a adivinhar pelo andar da carruagem, e comentava para a minha nina,que teria 7 ou 8 anos (começam desde muito pequeninos a ser formatados e é difícil inverter o processo, mesmo hoje em dia com a Internet, onde podemos fazer a "nossa própria programação", ao gosto de cada um... não, pelo contrário, ainda vão à net ver qualquer pormenor em detalhe, vezes sem conta, acerca do programa que estiveram a ver durante 4 ou 5 horas na "caixinha mágica").
 - Olha - profetizava eu - agora o mau vai aparecer e vai acontecer isto e aquilo...
Ela olhava para mim, depois para a TV e passado um pouco: - ó pai, como é que sabias o que ia acontecer? - Perguntava ela.
 - Se calhar porque não é a primeira, nem segunda vez que, desde há um mês atrás, isto vem a acontecer! Portanto se não fosse agora era amanhã ou para a semana ou pro mês que vem.
- Mas isto ainda não tinha acontecido..ripostava, ainda olhando-me como quem olha para um mágico que acabou de fazer o seu melhor truque.
- Não vês que estes dois actores ainda à pouco estavam a fazer o mesmo...
- Não!não vês que já é outra novela! A outra já acabou e eram as cenas do próximo episódio... Esta começou agora e depois desta é que dá ainda outra com estes actores...tsss, não percebes nada!

Pois é, quando uma cena tem grande medição de audiência, os actores são escolhidos para os mesmos papeis ou similares, contracenando sempre juntos. Assim, mesmo em diferentes histórias, a repetição é feita vezes sem conta e fica em "suspense", até à exaustão, quase eternamente...como para um bebé que depois de ver alguma brincadeira ou fazer uma coisa a que acha piada, quer que lha repitam vezes sem conta, achando sempre graça e nunca se cansando da repetição; pelo contrário: se a brincadeira acaba, fica frustrado e começa a chorar...
É mais ou menos a partir do conhecimento de factos como este e outros, que os entendidos, que estão por detrás dessas "patacuadas", se .baseiam para infantilizar, embrutecer e hipnotizar o "grande público", as maiorias - alguns milhões... a seguir um pequeno intervalo de 30 ou 40 minutos com publicidade exaustiva, estudada a preceito para aquele "público alvo", depois a frase:" telefone para o 000000, ligue já e muitas vezes..." o sucesso financeiro do programa está mais que garantido; vá lá,  se isso acontece então o programa é excelente. Não, só é excelente para quem mete o dinheiro ao bolso! E pronto...amanhã ou daqui a pouco há mais...Claro que há o tele-comando para mudar de canal ou desligar o aparelho, mas já de nada serve, pois falta o impulso, o querer, a vontade.
Ok, o pessoal precisa de se distrair, relaxar, não estar com este stress todo! Mas, mesmo que não quisesse ver mais nada na infame caixa mágica e pegasse nela e a queimasse, qual herege condenada à fogueira pela inquisição na Idade Média, não iria ter outro remédio senão pagar a taxa que vem junto à conta, no recibo da electricidade!
Eis uma das muitas formas de deseducar o espírito critico, manipular mentalidades e criar maiorias.
Subtil violência.
                                                Rui Tó Magalhães

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